quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Julian Santos



Cia Una D’Art para mim.
Sou Julian Santos. Tenho 17 anos, meu signo é Áries, moro em Ibiúna, quase que, desde que nasci."Em minha casa moram somente, minha mãe e meu irmãozinho de apenas um ano e oito meses, e eu.
Atualmente trabalho com dois amigos em uma empresa de construção civil fundada por eles mesmos. Isso me possibilita ajudar nas despesas da minha casa, pagando aluguel, água e luz. Como meu pai faleceu aos meus dez anos de idade, vivemos assim: Eu ajudando minha mãe e ela me ajudando; vivemos bem assim.
Conheci o teatro aos meus quatorze anos, através de amigos que agora já não fazem mais teatro, por ironia, talvez da vida. Me lembro quando entrei pela primeira vez no espaço onde ensaiávamos. Quando vi toda aquela galera sentada no chão, uns de pernas cruzadas, outros bem à vontade, então sentei ali num cantinho qualquer daquele circulo de pessoas onde era possível ver todo mundo. Para ser franco, até aí eu não vi nada de mais. As pessoas começaram a se apresentar falando seus nomes e comentando sobre as impressões que tinham do teatro e das peças das quais já tiveram a honra de participar. Toda essa simplicidade que eu havia visto ali foi totalmente corrompida quando o Ronaldo Dias, que é o meu grande amigo e também um , digamos, um “pai artístico” para mim. Começou a falar sobre o teatro e o seguimento Stanislaviskiano da arte do interpretar. Neste instante, sim, eu senti que aquilo ao qual presenciava era muito mais do que somente via.
Nessa época eu buscava a filosofia, a reflexão da vida e o entendimento de seus fenômenos mesmo sem saber que essa era a minha . Talvez fosse só mais uma fase que pessoas de quatorze anos passam como uma forma de conhecer, aprender e decidir o que ser quando crescer. Foi exatamente assim comigo."Até então passava em minha cabeça algumas profissões como: professor (de matemática ou filosofia), bioquímico, biólogo, empresário e, quem sabe, padre, etc. O interessante é que nem se passava em minha cabeça a idéia de ser ator ou seguir a carreira artística. Fazia teatro somente como um hobby e por que era relaxante e divertido (prazeroso). Me parece estranho dizer essas coisas assim, tão... insensível, mas é verdade. Além de que eu morava no sítio, alias só no ano passado comecei a morar na cidade, antes, tinha de pegar ônibus, ou então, ir ensaiar de bicicleta. Sempre uma pedalada de mais ou menos uns vinte e quatro quilômetros."Porém isso nunca foi um obstáculo intransponível ou um sacrifício. Para mim sempre foi uma alegria poder ir ensaiar de bicicleta, por mais que fosse cansativo, eu podia viajar calmamente observando a relva, os animais, os carros e as pessoas. Podia sentir a brisa refrescante em minha face, meu corpo, revigorando-me."Eu nunca fui o aluno/ator mais frequente nos ensaios, e como já disse isso não se devia à distância ou à dificuldade de locomoção, e mais ao fato de encarar o teatro como um hobby acho que porque assim eu não traçaria responsabilidade com nada. Passa-se muitas coisas, muitas dúvidas na cabeça de uma pessoa quando ela busca tanta reflexão como eu buscava, por mais que agora acho isso normal na vida de qualquer ser humano. Então o que eu menos queria era algo que me prendesse, acho que por esse motivo sempre fui um pouco ausente em tudo. Mas como já disse, toda essa turbulência foi só mais uma fase de muitas outras que viriam e que o teatro me ajudou a superar, seja consciente ou inconscientemente, me amparando e me ensinando a fazer aquilo que é melhor para mim sem nunca prejudicar ninguém com essas escolhas, me ensinando o bem múltiplo."Finalmente, no fim da minha terceira peça com a Cia Una D’Art, eu pude compreender que tudo que eu buscava e tudo que me dava prazer estava bem ali... Diante mim, por quase três anos, nunca havia reparado ou melhor, admitido que tinha encontrado a forma de vida que desejava para mim. Desde criança sempre sonhei em poder fazer algo que fosse benéfico para as pessoas. Eu sempre quis ver as pessoas felizes... talvez você possa pensar que estou sendo hipócrita querendo tão bem pessoas que nem conheço, mas na realidade estou sendo sincero. Sempre quis que as pessoas arrogantes não vissem a vida tão triste por causa dos problemas. Os problemas são somente a forma que a vida encontrou para comunicar a essa pessoa que há algo errado com ela, e não com as coisas ao seu redor. As coisas ao nosso redor, tudo desde do passado até o futuro, é o simples reflexo do sentimento que cultivamos no âmbito de nossos corações, pois isso se exterioriza sutilmente através de atos conscientes ou inconscientes que retornam à nós na mesma intensidade. E tudo isso acontece simplesmente, por que as pessoas esquecem de ver a beleza, abrir a janela e deixar que os raios fulgidos do sol vigoroso que brilha lá fora entre em nossos corações e aqueça nossas almas."Era um pouco dessa filosofia que eu gostaria de passar às pessoas, e poder ao longo da minha vida fazer pelo menos uma pessoa ser um pouco mais feliz do que nós já somos. Essa é uma realização pessoal minha que vive em muitas utopias, mas que não é um sonho distante, por que no teatro existe a possibilidade do infinito.
Nesses quase quatro anos que estou com a Cia Una D’Art, com o Ronaldo e com o Joaz, mal posso descrever o quanto aprendi e os quantos momentos felizes passei ao lado dessa grande família que a Cia Una D’Art é para mim.
Teatro é vida, verdade e transformação.
Ibiúna, 27 de janeiro de 2010
Julian Santos

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